A façanha do maltrapilho:

Os pais, ao buscar seus filhos, não tinham um minuto a perder. Davam broncas nos filhos quando se atrasavam na saída. Nesse clima de ansiedade, o maltrapilho burlou o esquema de segurança, colocou o nariz de palhaço, começou a correr, pular, dançar e fazer palhaçadas no pátio. Ao verem o maluco no ambiente, inúmeras crianças de nove, dez e onze anos se esqueceram de sair da escola e o acompanharam.
Abrindo as asas como um avião, ele saiu voando para um pequeno jardim. Ali, imitou um sapo, um grilo e uma cascavél. Foi uma algazarra. Em seguida, fez algumas mágicas. Tirou uma flor de manga, um coelhinho do paletó. E, após alguns minutos de diversão, disse às atentas crianças:

- Eis a maior mágica. – E tirou uma semente do bolso.

Então lhes disse: - Se fossem uma semente, que tipo de árvore vocês gostariam de ser? – Pediu para fecharem os olhos e imaginarem a árvore que seriam. Cada criança imaginou uma árvore em particular, desde o diâmetro do tronco, o contorno da copa, a dimensão dos galhos aos mais variados tipos de folhas e flores.

Diversos pais procuravam seus filhos desesperadamente. Nunca eles haviam se atrasado dez minutos na saída. Alguns pensaram que tivessem sido seqüestrados. Os professores também os procuravam, e alguns deles ao chegarem ao local onde o maltrapilho fazia sua performance, ficaram impressionados com a quietude dos alunos, ainda mais naquele horário, viram o maltrapilho e perceberam que quem agitava a escola era o estranho que incitava a cidade.

Depois desse breve exercício de imaginação, ele disse às crianças:

- Uma existência sem sonhos é uma semente sem solo, uma planta sem nutrientes. Os sonhos não determinam que tipo de árvore será, mas dão forças para você entender que não há crescimento sem tempestades, períodos de dificuldades e incompreensão. – E recomendou: - Brinquem mais, sorriam mais, imaginem mais. Lambuzem-se com a terra  dos seu sonhos. Sem terra a semente não germina. – Neste instante, pegou o barro que estava ao seu lado e lambuzou a cara.

Admiradas, diversas crianças também meteram as mãos no barro e sujaram a cara. Algumas borraram as roupas. Jamais se esqueceriam dessa cena, mesmo quando envelhecessem. Entretanto, seus pais, ao chegarem ao local e verem os filhos sujos e sendo ensinados por um homem pessimamente vestido, de aparência estranha, se escandalizaram. Alguns protestaram:

- Tirem esse louco do meio de nossos filhos!

Esbravejando, outros disseram:

- Pagamos uma mensalidade caríssima e essa escola não oferece o mínimo de segurança. Que afronta!

Chamaram os seguranças, e com safanões o expulsaram da escola na frente das crianças. Juliana, garota de nove anos, uma das que mais sujaram o rosto, correu ao encontro dele e gritou: - Parem, parem!

Admirados, os que enxotavam o mestre pararam o cortejo. Subitamente Juliana lhe deu uma flor e lhe disse: - Gostaria de ser uma videira. - Por quê minha filha.

Ela respondeu:

- Não é forte nem bonita como você. Mas qualquer um pode alcançar seus frutos.

Extasiado, o mestre expressou:

-Você será uma grande vendedora de sonhos.

Certos professores pediram que os seguranças fossem gentis com o homem que expulsavam. Na saída, alguns o aplaudiram. Virando a face, ele disse-lhes:

- Uma sociedade que aparelha muito mais quem pune do que quem educa será sempre enferma. Não me curvaria diante dos famosos nem dos grandes líderes desse sistema, mas curvo-me diante dos educadores. E curvou-se diante dos admirados professores e professoras. Em seguida, saiu sem direção.

Trecho do livro Vendedor de Sonhos de Augusto Curry

1 comentários:

"Sonhar não cuata nada...não se paga pra sonhar. Deixe a sua mente vagar, viajar nos braços do infinito onde tudo é mais bonito nesse mundo de ilusão." Sonhamos..mas com o pé no chão!

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